Entrevista: Dinaldo Tucada conta sua história!

Dinaldo Tucada, é um exemplo ímpar de motociclista.

Pessoa simples e do bem, que cativa as pessoas. Um aventureiro que gosta de viver a vida explorando o desconhecido. Apaixonado por duas rodas desde os 12 anos.

É presidente do Moto Grupo Dragueiros.

Blog: Primeiramente queremos agradecê-lo pela participação no Vamos Agora, dividindo com nossos leitores um pouco da sua experiência como motociclista.

Como surgiu a motocicleta na sua vida, como foi seu primeiro contato com a máquina?

Tucada: Como toda e qualquer criança, enquanto tinha minha bicicleta já estav de olho nas motocicletas. Tudo começou por volta dos 12 anos, meu irmão tinha uma moto importada, que não me lembro da marca, acho que era uma Norton ou Jawa, que vez em quando eu pegava emprestada sem ele saber (risos).

Depois de aprender a pilotar, não parei mais, vieram as RD50, RD75, DT180, XLs, CGs, MLs, viuvinha, CB400/450, lambretas e as CR150/250, foi quando surgiu o motocross no Brasil na década de 80, me empolguei e participei durante uns 4 anos.

Nunca fui fã de velocidade e nunca tive motos potentes conhecidas como speeds, minha curtição era passear, vento na cara, curtir estradas e a natureza.

Já na era das motos estilo custom e seus belos cromados, foi o momento de seguir para estrada em uma delas. Passei a viajar muito e cada vez mais longe.

Após um tempo, com a experiência das viagens e um poucocansado do segmento custom, chegou a hora de conhecer o mundo das big trail. Hoje possuo uma Super Tenere 1200 e uma Tenere 250.

Em Curitiba com os Dragueiros.

 Blog: Que estilos de motocicleta você já teve? E, acredita que cada estilo se relacionou com seu momento de vida ou com seu momento de expectativa como motociclista?

Tucada: Como adiantei na pergunta anterior, com exceção das speeds, já tive quase todos os modelos de motos. Cada uma à sua época e de acordo com o crescimento da minha pilotagem, necessidade do momento e fase de vida. Desde motos de baixa cilindrada que eram usadas quase que 100% para trabalhar, como as de maior cilindrada, estilo estradeiro para viagens.

Em Brasília!

Blog: Pesquisando um pouco sobre sua trajetória, identificamos que já rodou muito sobre duas rodas pelo Brasil a fora, além de expedições em outros países também, mas falando de Brasil, você poderia citar 3 destinos que foram mais marcantes?

Tucada: Na época em que viajava solo ou com outros grupos de MC, fiz muitas viagens marcantes e com muita adrenalina, mais as melhores sem duvida foram com a minha turma de malucos, os Dragueiros.

Dentre elas posso citar: Brasília que foi cheia de grandes emoções e muita diversão; A famosa Serra do Rio do Rastro;  e Foz do Iguaçu (Tríplice Fronteira: Brasil, Paraguai e Argentina).

No Deserto do Atacama.

Blog: Quando conversamos com motociclistas, sobre as motivações para subir na moto e sair para as estradas e principalmente como definem o que sentem, percebemos um sentimento de fraternidade difícil de descrever. Você teria alguma definição sobre o que é ser motociclista?

Tucada:  Eu penso que ser motociclista é gostar da liberdade, de ir e vir.

Do vento na cara,  de gostar de pessoas,  parceiros e amigos, de não só fazer parte como se integrar na natureza, de não ter medo de adversidades, de ter espirito aventureiro, de ser um eterno e avido conquistador das coisas boas da vida.

É cair no mundo em busca do desconhecido que o Senhor do universo e mãe natureza nos oferece, de se atirar em novas experiências, de se achar e se reconhecer em outros povos.

Maimará, Argentina.

Blog: Com tantas histórias, parcerias e viagens, tem alguma que merece destaque? Algo que tenha marcado sua vida?

Tucada:  (risos) muitas e muitas! Mas, a que me marcou profundamente e que gosto de contar aconteceu há muitos anos atrás. Por um pequeno desconforto na coluna após uma pequena queda no motocross, fui ao médico. Depois de alguns exames, veio o diagnóstico:

Médico: você tem uma fratura congênita e várias fraturas na sua coluna cervical.

Eu: tá. E aí doutor?

Médico: Quais são as suas atividades além do trabalho? Ele já sabia que eu era um empresário.

Eu: Bom, pratico um pouco de natação, jogo bola de vez em quando, faço karatê e Tae-kwon-do toda semana, ando muito de moto e sou piloto de motocross!!

Médico: pode esquecer tudo isso aí! Você está com sérios problemas na sua coluna que poderá curvar e não voltar nunca mais.  Venda as motos e nunca mais você poderá voltar a pilotar. Pare de praticar todos esses esportes pesados e a única coisa que poderá fazer é uma natação leve, programada e assistida.

Vai começar a fazer uma fisioterapia intensa e reze para que sua coluna não se curve e você fique andando olhando para o chão. Se acontecer é irreversível e não existe cirurgia para esses casos.

Eu: olhar espantado e incrédulo! Como assim Doutor? Isso seria decretar a minha morte, tirando de mim as coisas que mais gosto de fazer na minha vida!!

Médico: Você é quem sabe! A vida é sua e a coluna também!

Eu: Saí de lá traumatizado, cabisbaixo e desesperado com essa catastrófica possibilidade. No auge dos 30 e poucos anos, cheio de saúde e vigor, adrenalina e hormônios a milhão, fazendo de tudo e mais um pouco, condenado a me privar das coisas que mais gostava de fazer e de viver a vida na sua plenitude.

Não contei para ninguém, meu sentimento era de impotência e vergonha. Continuei a fazer de tudo e fui fazer a tal fisioterapia. Enquanto isso os pensamentos remoíam minha mente 24 horas sem parar. Pensei, pensei e cheguei a conclusão de que continuaria a fazer tudo que gostava sem medo de ser feliz e até onde pudesse e aguentasse!

Trinta anos depois, estou aqui, até hoje pilotando moto e fazendo de tudo que sempre gostei e a minha coluna não curvou (risos).

Em Tilcara, Argentina.

 Blog: Muitos motociclistas sonham com alguns destinos específicos, é o seu caso? O qual seu sonho ou seus planos como motociclista?

Tucada: Sonho apenas um!  Fazer uma viagem de muitos meses, sem tempo definido de retorno. Explorando e conhecendo vários países.

Planos de continuar viajando desbravando esse mundão que o Arquiteto maior e a Mãe natureza nos brinda.

Rumo a Natal/RN.

Blog: Como você define a diferença e quais vantagens e desvantagens em viajar sozinho e em grupo?

Tucada: Lógico que existe uma grande diferença em viajar sozinho e em um grupo. Sozinho fazemos nosso tempo e nossas escolhas e não temos que dividir nada com ninguém, muito menos ficar na dependência da diversidade de opiniões das pessoas  – o que as vezes é bom e salutar. Eu gosto!  

Mas, nem sempre! Mesmo porque, já nascemos em uma sociedade e nossos instintos nos leva ao coletivo. Como diria Freud…”um eu, não se constitui sozinho, pois ele é fruto de relações de outro, é plural”. Consequentemente, viajar em grupo para mim, é muito mais prazeroso. Apesar da complexidade, dividimos o cansaço, as aventuras, as adversidades e o prazer da viagem.

Blog: Para fechar, o que você diria para alguém que está pensando em ter uma motocicleta?

Tucada: Não perca mais tempo e se atire! E descubra a sensação incrível de liberdade que ela nos dá e o convite estimulante a descobrir novos horizontes.

Machu Picchu.

Pra fechar, esse texto inspiração que escrevi quando estava em Machu Picchu.

 …. Que estranho poder, fascínio e sedução, essa máquina exerce sobre nós… homens! Como é que pode! – uma máquina quase que cunhada no mais puro aço, e tida como, supostamente sem vida, sem coração e sentimentos (risos) pobres tolos aqueles que acreditam nisso.

Não se deixe enganar! Dentro de toda aquela carcaça, pulsa forte um coração valente que ruge alto e dentro de nós. Que nos chama, que nos empurra e nos leva a loucura nos transformando em meninos. Homens feitos, maduros, conscientes e responsáveis, mas ela nos torna criança… outra vez!

Nos faz, não somente sonhar, mais objetivar e transpor obstáculos inimagináveis. Nos faz fortes e um nada ao mesmo tempo. O quanto podemos e queremos. Nos faz sorrir, chorar e nos emocionar.

Muda conceitos e valores centenários e muda as pessoas. Agrega e nos brinda com parceiros e novos amigos, como se irmãos já fossemos, promovendo o milagre da multiplicação.

Faz-nos perceber e sentir, o quanto a natureza é bela e prodigiosa e que somos parte viva e integrante, não só dela, como de um todo. Faz-nos sentirmos vivos, e com vontade de viver.

Proporciona liberdade plena, de ir e vir, de poder ousar, de quase voar. De interagir com povos e mundos distantes e fazer parte deles.

Nos ensina, de forma singular, que a vida nos foi dada para que a vivêssemos enquanto vida houver – que o passado já era e que sobrou apenas as boas lembranças que, juntos, fizemos acontecer – que o presente é o agora!

Somos nos que o fazemos –e do futuro (risos) nada sabemos. Somente a Deus pertence.

Explicar… como?? Esse estranho poder, magia e sedução.

Dinaldo 02/12/14

Muito obrigada por dividir todos esses momentos especiais com o Blog Vamos Agora!!

GraBarros

 

Inspirando motociclistas!